Uma carta elaborada por comandantes das Forças Armadas em novembro de 2022 fez com que manifestantes acampados no Quartel General (QG) do Exército se sentissem seguros para avançar em direção à Praça dos Três Poderes, segundo afirmou o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, em áudio obtido pela Polícia Federal (PF). O material foi divulgado pela corporação no domingo (23).

De acordo com o áudio, a carta foi vista por organizadores dos acampamentos como um respaldo das Forças Armadas para que eles pudessem tomar a frente do movimento e intensificar manifestações antidemocráticas contra o resultado das eleições presidenciais, inclusive com o deslocamento das manifestações para a frente dos prédios do STF e do Congresso Nacional.

 

 

No final de novembro de 2022, comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica divulgaram uma carta intitulada “Às Instituições e ao Povo Brasileiro”. O documento defendia o direito da livre manifestação e condenava quaisquer ações que restringissem os protestos.

Na gravação divulgada no domingo, Mauro Cid cita ainda que os organizadores dos acampamentos tinham medo de se expor e sofrer retaliação do ministro Alexandre de Moraes, do STF. No entanto, ao saberem da carta, sentiram que o Exército garantiria a segurança deles.

“Então, com a carta das Forças Armadas – que o pessoal elogiou muito –, eles estão se sentindo seguros para dar um passo à frente. […] Os organizadores dos movimentos vão canalizar todos os movimentos que estão previstos no dia 15 [de dezembro] como ápice, a partir de agora lá para o Congresso, STF… Para a Praça dos Três Poderes, basicamente. E o que eles entenderam dessa carta: obviamente que os movimentos vão ser convocados de forma pacífica e eles estão sentindo o respaldo das Forças Armadas”, diz Mauro Cid em áudio enviado ao então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes.

“Agora, esses movimentos vão botar o nome deles no circuito para aparecer lideranças que puxam o movimento para o STF e Congresso. Eles vão colocar o nome deles na frente nisso aí. E aí o medo deles é retaliação por parte do Alexandre de Moraes. Então, no entendimento deles, essa carta significa que as Forças Armadas vão garantir a segurança deles”, prosseguiu o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

De acordo com o relatório da Polícia Federal, os áudios mostram uma a interlocução entre lideranças das manifestações antidemocráticas e integrantes do governo do então presidente Jair Bolsonaro para intensificar as manifestações e direcioná-las fisicamente contra o STF e o Congresso Nacional, fato que efetivamente ocorreu no dia 8 de janeiro de 2023.

O áudio de Mauro Cid foi extraído de celulares e computadores apreendidos durante a investigação sobre uma tentativa de golpe de Estado em 2022, que resultou na denúncia de 34 pessoas por atos contra o Estado Democrático de Direito.

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